quinta-feira, 20 de junho de 2013

O amor é lindo !

Sou teimoso.

Juliana é teimosa.

Nosso amor é uma caprichada teimosia do destino.

É inacreditável o quanto somos felizes provocando o outro.

Não testando, jamais jogando, o que consideramos diversão para insensíveis.

Provocar é chamar para perto. É desejar a proximidade.

Nosso humor é uma homenagem da intimidade.

Ela ri para mim, eu rio para ela.

Não nos avacalhamos, não nos debochamos, não nos julgamos, nada que envolva recalques.

O sarcasmo é reservado para os desafetos. A ironia fica no emprego.

Usamos a graça, a leveza do gracejo, sempre acompanhado de abraços e beijos para não gerar dúvidas.

Eu brinco e abraço, ela brinca e me abraça. O corpo afasta mal-entendidos.

Nosso riso é ingênuo. Rir é um modo de aceitar os defeitos e as manias.  Um modo de acolher e de não se sentir superior ou melhor que ninguém.

Rir é dizer que eu também sou assim, da parte falível dessa luz.

Rir é autocrítica. A gargalhada é uma confissão de humildade.

Portanto, confesso que errei, mas errei rindo.

Armei de oferecer um presente de inauguração do guarda-roupa.

Olhamos um vestido em loja de São Paulo.

Ela criticou abertamente as rendas lisérgicas que faziam tributo aos Beatles. Apontou que nunca compraria.

Eu concordei na hora, fiz charme com as sobrancelhas, mas quando reencontrei o vestido em Porto Alegre, acredita que fiquei com vontade de comprar?

Levei o vestido que ela não gostou.

É o cúmulo da provocação. Nenhum homem em sã consciência deveria adotar esta atitude.

É um gesto arriscado. Um gesto impensável. Já erramos quando ela escolhe a peça, imagina quando ela rejeita?

Não entendo o que passou ou não passou pela minha cabeça. A questão é que pensei em dar uma segunda chance ao figurino.

E para mim mesmo, mesmo que representasse uma briga homérica de que “você não me escuta”, de que “você não me respeita”, de que “você não presta atenção em mim”.

Assumi os efeitos colaterais.

Ela pegou a maldita peça com generosidade e provou, rebolou, experimentou, encarou o espelho. Não faltou vontade, inclusive se maquiou para ajudar o enredo azul do vestido.

E, depois de uma longa sessão de poses, me devolveu:

— Não quero, amor. Agora tenho certeza.

Ela teve uma educação invejável. Não comprou briga, nem revendeu minha briga. Negou calmamente.

O que me faz concluir que não fui corajoso por adquirir algo que ela recusou. Ela é que foi corajosa por recusar duas vezes. Na teoria e na prática.

Êta mulher orgulhosa que é meu orgulho.

( do blog do Fabrício Carpinejar)

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